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Violência na Zona Norte do Rio de Janeiro cresce

Segundo o Fogo Cruzado, a Zona Oeste tem sido alvo constante de disputas entre traficantes e milicianos, e em 2023, o número de tiroteios na região aumentou 55% em relação ao ano passado. Ao menos 448 tiroteios ocorreram na região entre janeiro e 5 de outubro de 2022. Esse ano o número subiu para 693 registros.

Na Zona Sul da capital, foram registrados 44 tiroteios em 2023, e no Centro 69. Considerando outras regiões, o Leste Metropolitano, que tem sete municípios, acumulou 403 tiroteios em 2023, e a Baixada Fluminense, que tem 13 municípios, 722 tiroteios.

As disputas na região explodiram após a morte do Ecko, chefe da principal milícia, em junho de 2021. O irmão dele, Zinho, e um ex-aliado, Tandera, passaram a disputar bairros. Com a milícia fragilizada, o Comando Vermelho passou a tentar tomar as áreas. A disputa em Jacarepaguá é uma das mais críticas.

“O que aconteceu na Barra da Tijuca não é um caso isolado. Sozinha, a Zona Oeste do Rio de Janeiro concentrou um terço das chacinas ocorridas em 2023. Esses dados revelam algo que chamamos atenção há meses sobre aquela região: a gravidade dos conflitos que envolvem as disputas territoriais entre grupos criminosos. Em 2023 registramos um crescimento de 55% nos tiroteios na Zona Oeste. É uma tragédia”, afirma Carlos Nhanga, coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Rio de Janeiro.

“O caso de ontem é mais um exemplo de como a violência armada é um problema grave que precisa ser enfrentado com base em dados, com inteligência e planejamento. No entanto, vale lembrar, o Rio de Janeiro sequer tem um plano de segurança pública. A gente espera que o caso seja exemplarmente investigado e que o Estado planeje de fato ações que possam evitar tragédias como essa", completa.

O ataque a tiros na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, foi uma das 38 chacinas ocorridas na região metropolitana do Rio de Janeiro em 2023. Elas deixaram 145 mortos no total, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado. 13 delas ocorreram na Zona Oeste da capital, deixando 47 mortos.

Sozinha, a Zona Oeste concentrou um terço das chacinas mapeadas ao longo do ano, sendo esta a primeira chacina registrada na Barra da Tijuca em 2023. Entre as 38 chacinas mapeadas, 22 ocorreram durante ações ou operações policiais, deixando 92 mortos. 13 chacinas se deram na Zona Oeste da cidade, com 47 vítimas, sendo sete delas em ações ou operações policiais, deixando 25 mortos. Em 2022, nesse mesmo período, houve quatro chacinas na Zona Oeste que deixaram 12 mortos. Uma delas foi durante ação ou operação policial, deixando três mortos.

Execuções

Ao todo, houve 53 casos de execuções na Zona Oeste em 2023, que deixaram 67 mortos no total. Em 2022 foram 12 casos com 15 mortos.

Baleados

Cresceu também o número de baleados em 2023. 401 pessoas foram baleadas na região. Entre as vítimas, 234 foram mortas e 167 ficaram feridas. O número de mortos cresceu 127% e o de feridos, aumentou 43% em comparação com os 220 baleados entre janeiro e 5 de outubro do ano passado (103 mortos e 117 feridos).

Bairros

A Praça Seca tem sido o palco das disputas entre milícias e facções do tráfico por ter no Bateau Mouche uma área estratégica para acesso a outras favelas da Zona Norte. O bairro da Zona Oeste foi o mais afetado pela violência nesse período. Os 124 tiroteios ocorridos na Praça Seca deixaram 15 mortos e 26 feridos. Em 2022, foram 61 tiroteios com nove mortos e seis feridos no bairro nesse mesmo período.

Além da Praça Seca, a Vila Kennedy, considerada o laboratório da Intervenção Federal em 2018, foi o segundo bairro da Zona Oeste mais impactado pela violência esse ano, com 77 tiroteios, 14 mortos e seis feridos. Além deles, os outros três bairros com mais tiroteios foram: Cidade de Deus (58 tiroteios, 11 mortos e três feridos); Bangu (56 tiroteios, 18 mortos e 14 feridos); e Tanque (48 tiroteios, sete mortos e 15 feridos).

A Barra da Tijuca, alvo do ataque que vitimou Diego Ralf Bomfim, de 35 anos, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim e cunhado do deputado Glauber Braga (PSOL) e mais dois homens, ocupa a 22ª posição no ranking de bairros da Zona Oeste com mais tiroteios em 2023, com sete tiroteios, e deixando seis pessoas mortas e duas feridas.

Balas perdidas


As disputas e as ações e operações aumentaram este ano e o número de vítimas de balas perdidas também explodiu, indo de um morto e cinco feridos no ano passado, para nove mortos e 18 feridos esse ano.

Dados comparados (01/01 a 05/10)

Tiroteios: 448 em 2022 e 693 em 2023, um aumento de 55%


Baleados (mortos + feridos): 220 em 2022 e 401 em 2023, um aumento de 82%


Mortos: 103 em 2022 e 234 em 2023, um aumento de 127%


Feridos: 117 em 2022 e 167 em 2023, um aumento de 43%


Vítimas de balas perdidas: 6 em 2022 e 27 em 2023, um aumento de 350%


Casos de execuções: 12 em 2022 e 54 em 2023, um aumento de 350%


Mortos em execuções: 15 em 2022 e 71 em 2023, um aumento de 373%


Casos de chacinas: 4 em 2022 e 13 em 2023, um aumento de 225%


Mortos em chacinas: 12 em 2022 e 47 em 2023, um aumento de 292%

SOBRE O FOGO CRUZADO

O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada, fortalecendo a democracia através da transformação social e da preservação da vida.

Com uma metodologia própria e inovadora, o laboratório de dados da instituição produz mais de 40 indicadores inéditos sobre violência nas regiões metropolitanas do Rio, do Recife e de Salvador.

Através de um aplicativo de celular, o Fogo Cruzado recebe e disponibiliza informações sobre tiroteios, checadas em tempo real, que estão no único banco de dados aberto sobre violência armada da América Latina, que pode ser acessado gratuitamente pela API do Instituto.


Foto: Reprodução

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