Megaoperação policial desta terça-feira tem mais mortos que o acumulado em outubro até ontem

A megaoperação desta terça-feira (28) em 26 comunidades dos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio deixou 64 pessoas mortas e outras 11 feridas, entre elas quatro agentes mortos e outros oito feridos. O número de mortos registrados na operação de hoje é maior que o registrado entre 1º e 27 de outubro, quando 63 mortos foram atingidos na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Com essa operação, 2025 acumula 799 tiroteios em ações ou operações policiais no Grande Rio, segundo levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado. Ao todo, 745 pessoas já foram baleadas nessas circunstâncias, das quais 353 morreram e 392 ficaram feridas.

Com os agentes baleados na ação de hoje, o Fogo Cruzado mapeou ao menos 126 agentes de segurança baleados no Grande Rio em 2025, dos quais 60 morreram e 66 ficaram feridos. Entre os agentes baleados este ano, 89 eram policiais militares (43 mortos e 46 feridos) e 21 eram policiais civis (oito mortos e 13 feridos).

Entre os atingidos na operação de hoje, três pessoas foram feridas por balas perdidas, entre elas um homem em situação de rua atingido nas costas, uma mulher baleada enquanto estava em uma academia, e um homem atingido quando estava em um ferro velho. Em 2025, já são 98 pessoas vítimas de balas perdidas na região metropolitana do Rio, das quais 21 morreram e 77 ficaram feridas. Entre as 98 vítimas, 54 foram atingidas em ações ou operações policiais, das quais 11 morreram e 43 ficaram feridas.

Em nota, Instituto Fogo Cruzado avalia o elevado número de atingidos com a operação de hoje. Leia na íntegra.

“Nota do Instituto Fogo Cruzado após a Operação Contenção em 28 de outubro de 2025


Em nenhum lugar do mundo uma ação do Estado que termina como a de hoje no Rio de Janeiro pode ser considerada de sucesso ou resultado de planejamento prévio. As polícias do Rio começaram o dia com a Operação Contenção e o que se viu foi parte expressiva da população na linha de tiro e uma cidade inteira parada. Este é o planejamento do governo do estado?

Operações como essa mostram a incapacidade do governo estadual de fazer política pública de segurança pública. E são o legado de décadas de negligência tanto de governos estaduais quanto federais.

Registramos, até agora, 64 pessoas mortas em um único dia — um número que supera todas as mortes por tiros ocorridas no Grande Rio entre os dias 1 e 27 de outubro (63). Isso demonstra a dimensão trágica dessa ação. Para colocar em perspectiva: esta é a maior chacina policial já registrada na história do estado do Rio de Janeiro, superando as tragédias do Jacarezinho (2021) com 28 mortos, e da Vila Cruzeiro (2022) com 24 mortos. Todas essas chacinas policiais aconteceram no governo de Cláudio Castro e também em contexto de proximidade com o período eleitoral.

Foram 64 mortes, 11 pessoas feridas, incluindo 3 vítimas de balas perdidas. Quatro policiais morreram. Mais de 100 linhas de ônibus foram interrompidas. Escolas e postos de saúde foram fechados. O custo real da operação jamais será medido. Por outro lado, não há um carioca que duvide que amanhã tudo seguirá igual. As bravatas do governador não enganam: a operação pode funcionar como propaganda do seu governo, mas ficará marcada como mais um fracasso, símbolo da ausência de uma política de segurança efetiva. Porque combater o crime organizado exige outra lógica. É preciso atacar fluxos financeiros, investigar lavagem de dinheiro, fortalecer corregedorias independentes e combater a corrupção dentro do Estado. Tudo que o Rio de Janeiro não faz há décadas.”


 Fonte: Fogo Cruzado | Foto: Fabiano Rocha/ Agência O Globo

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