Adolescente morre e crianças ficam feridas em deslizamento em Niterói

Gustavo Carvalho - Uma adolescente morreu e duas crianças ficaram feridas em um deslizamento de terra no Morro do Palácio, no Ingá, Zona Sul de Niterói, na noite desta quinta-feira. A estudante Júlia Gonçalves Damasceno, de 13 anos, ficou soterrada após tentar proteger as outras duas vítimas da avalanche de lama e pedras que as atingiu durante as fortes chuvas registradas em diferentes pontos do estado, por volta das 23h. A jovem conseguiu salvar as duas crianças, mas não resistiu aos ferimentos. Robert Taironi Alves, de três anos; e Tayla, de 2, foram socorridos por moradores e levados para o Hospital estadual Azevedo Lima, no Fonseca. Eles sofreram apenas ferimentos leves e já receberam alta médica. Duas casas da comunidade foram interditadas pela Defesa Civil Municipal e uma outra está sob alerta de risco.
De acordo com familiares das vítimas, Júlia – que cuidava das duas crianças enquanto os pais delas trabalhavam – seguia pela Rua Getúlio Vargas para levá-las em casa, quando o temporal começou. A força da enxurrada derrubou um muro de contenção improvisado, que desceu junto com a encosta. A estudante foi soterrada ao impedir que o muro atingisse Robert e Tayla.
— Escutei um barulho muito forte e me deparei com os três já soterrados. As crianças ainda estavam visíveis, pois a menina os protegeu com o corpo. Consegui tirá-los rapidamente cortando as vigas com uma tesoura. Infelizmente, quando consegui alcançar a Júlia, ela já estava morta — recordou o carpinteiro Roberto Souza da Silva, 37, que ajudou no resgate das vítimas.
O prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PT), esteve na comunidade na manhã desta sexta.
Avô da adolescente, o porteiro Levi José Ribeiro, de 64 anos, disse que há mais de uma década vem pedindo para que a prefeitura realize intervenções naquela encosta.
— Sempre fui zeloso por essa comunidade e uma das coisas que mais me preocupavam era a situação dessa barreira. Foi uma tragédia anunciada, que batia na porta de cada um dos moradores, mas que escolheu a minha casa para entrar. A Júlia era tudo na minha vida — declarou emocionado o porteiro, que criava a jovem. — Ela estava tão feliz que com o dinheirinho que ia receber para cuidar desses meninos e conseguiu cumprir essa missão, pois os salvou. Mais um sonho interrompido. Uma história que se repete a cada chuva que atinge Niterói — completou indignado, referindo-se à tragédia de 2010, que deixou dezenas de mortos no município.
O presidente da associação de moradores do Morro do Palácio, Romilton Dias dos Santos, afirmou que notificou a prefeitura quatro vezes sobre a necessidade de uma contenção naquela encosta. Entretanto, segundo ele, a administração municipal nunca respondeu às solicitações:
— Há vários outros pontos críticos na comunidade. Esse é apenas um deles. Será que agora seremos ouvidos? — questionou.
Durante a madrugada, o corpo de Júlia foi removido para o Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, em São Gonçalo. O enterro será na tarde desta sexta-feira, no Cemitério do Maruí, no Barreto, Zona Norte da cidade. O velório será na Capela São Pedro. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, o estado de Robert Taironi Alves é estável. Ele permanece em observação. Já Taila foi transferida para um hospital particular de Niterói.
Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) fizeram uma perícia no local, que foi interditado pela Defesa Civil.
— Preliminarmente, os imóveis que foram atingidos serão interditados e um deles será monitorado. Durante a manhã, vamos voltar para fazer uma avaliação mais minuciosa — explicou Bianca Neves, diretora operacional do órgão municipal.
A morte de Júlia foi a segunda em decorrência das chuvas no estado em menos de 24 horas. Na manhã de quinta-feira, Kelly Pereira da Rocha, de quatro anos, morreu após ser soterrada em deslizamento que atingiu sua casa, no bairro Cinco Lagos, em Mendes, interior do estado.


O Globo online

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