Quadrilha que clonava cartões atuava em Niterói, São Gonçalo, Baixada e na Região dos Lagos.

Seis pessoas, incluindo dois policiais civis, foram presas na manhã de ontem durante a Operação Traidor, deflagrada pela Corregedoria Interna da Polícia (Coinpol) com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e outras especializadas. Todas são acusadas de integrar uma quadrilha que faturava R$ 700 mil por mês com a clonagem de cartões bancários em Niterói, São Gonçalo, Região dos Lagos e Baixada Fluminense.

Um terceiro policial, inspetor da 73ª DP (Neves) e candidato a deputado estadual, também acusado, só não foi preso porque a lei eleitoral proíbe a prisão de postulantes aos cargos públicos nos 15 dias que antecedem as votações. Os dois agentes detidos são, ainda, apontados como x-9 (informantes) de traficantes do Complexo do Alemão, na Zona Norte Rio. Outros dois acusados de integrar o bando, um deles bombeiro, estão foragidos. A ação teve como objetivo cumprir 12 mandados de prisão, oito deles do Rio e outros quatro no Ceará, além de 19 de busca e apreensão.
As investigações começaram a partir da “Operação Fim de Linha”, deflagrada pela Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), no ano passado, que desarticulou uma quadrilha especializada em fraudar cartões da SuperVia. Um dos acusados de envolvimento no esquema, Luiz Antônio Gonçalves, também participaria do esquema de clonagem de cartões, que começou a ser investigado pelos agentes.
De acordo como o chefe de Polícia, Allan Turnowski, a Coinpol foi acionada quando foi descoberto que haviam seis policiais civis envolvidos na fraude, além de dois PMs e um bombeiro. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, mostram Marcos Gomes da Silva, policial da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), e Ricardo Perrota de Carvalho, inspetor da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Belford Roxo, prevenindo bandidos sobre operações policiais na comunidade. Durante duas invasões no ano passado, os criminosos, alertados sobre a ação que seria desencadeada, surpreenderam a polícia com barricadas e armamento pesado. Para a polícia, a traição teria contribuído para a morte três agentes durante a operação, que também deixou onze pessoas feridas.
“Esses policiais, além de lucrarem em cima da atividade ilegal, garantiam a segurança dos bandidos. Há uma revolta até hoje, porque, em várias operações em que vazaram informações, houve mortos e feridos. É uma questão de honra para a Polícia Civil prender esses agentes”, disse em tom de desabafo.
“Isso explica porque encontramos bueiros abertos, óleo na pista, e traficantes com munição suficiente para horas de confronto. Esperamos que a Polícia Civil expulse esses traidores, em breve, em nome dos familiares dos nossos colegas mortos, que estavam prestando verdadeiro serviço à sociedade”, acrescentou Turnowski.

                                     Candidato escapa de ser preso
 
Acusado de participar da quadrilha que clonava cartões, o agente da 73ª DP Jorge Luiz Dias da Silva, foi levado para a Corregedoria com os outros presos, mas o mandado de prisão contra ele não pode ser executado, e o policial acabou sendo libertado, devido à legislação eleitoral. Candidato do Partido Comunista do Brasil (PC do B), ele só poderá ser autuado na próxima quarta-feira, dois dias após o pleito.

O mesmo não aconteceu com Luiz Antônio Gonçalves, o Luizão, e Antônio Barbosa de Oliveira, o Tonho de Itaboraí, que foram presos e autuados por estelionato e formação de quadrilha. Máquinas conhecidas como chupa-cabras - que roubam dados de clientes nos caixas eletrônicos - e microcâmeras que eram instaladas para filmar os usuários digitando suas senhas, foram encontradas na residência da dona de casa Maria Vilanir de Lima, em Duque de Caxias. A mulher foi detida por receptação e o material apreendido. Alguns dos equipamentos contavam com alta tecnologia, com a captação de imagens por bluethooth – técnica de transferência de arquivo sem fio.
Maria seria tia dos irmãos Clodoaldo e Clóvis de Oliveira, este último apontado como chefes do esquema. O primeiro foi preso e o segundo encontra-se foragido. A polícia acredita que Clóvis e o bombeiro Mozar Leroez, também com mandado de prisão, tenham voltado para o Ceará, estado de origem da maioria dos acusados de integrar o bando. Até o fechamento desta edição, a polícia cearense ainda tentava cumprir os quatro mandados de prisão.

                                    Lucro de R$ 700 mil por mês
O Delegado da Corregedoria Interna da Policia Civil (Coinprol), Felipe Bittencourt, explicou como a suposta quadrilha agia.

“Os irmãos Clovis e Clodoaldo, líderes do bando, vieram do Ceará porque naquele estado esse tipo de crime tornou-se uma epidemia. Os cartões (em branco) eram comprados pelo valor de R$ 1,60 cada e vinham do Nordeste, às vezes via Sedex. O lucro da quadrilha chegava a 700 mil por mês”, calculou.
A polícia acredita que outras sete pessoas ainda integrem o grupo, incluindo PMs. Alguns já foram identificados, entre eles duas mulheres. Elas facilitariam a ação dos bandidos em cidades pequenas como Búzios, onde fingiam ser esposas dos criminosos, formando famílias a fim de não levantar suspeitas. A polícia ainda investiga policiais rodoviários federais suspeitos de receber propina dos acusados durante uma blitz, quando eles se dirigiam a Búzios.

Agente alerta traficantes através do celular

Mulher do traficante: “Oi queridão!”
Policial informante: “Oi P., tudo bem?”
Mulher do traficante: “Tudo bem, você foi convidado para a boa de amanhã?”
Policial informante: “Não sei como vai ser não, marcou sete horas da manhã lá, mas não sei pra onde vai ser não”.
Mulher do traficante: “Nossa, tá todo mundo misteriosos (sic) aí, hein?”.
Policial informante: “Pois é, cara, o negócio vai ser grande, tá todo mundo, todo mundo. Negócio grande aí, partiu Alemão, né?”
Mulher do traficante: “Pôxa, será? O encontro é onde? No mercado?”
Policial informante: “Não sei, marcamos de nos encontrar na delegacia. Vou ver o negócio lá, eu te ligo”.
Mulher do traficante: “Tá’ certo, beijo”.
Policial informante: “Outro aí”.


O Fluminense

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