Começa o pagamento da 2ª parcela do Pé-de-Meia

Um Dia Fora de Casa (parte 3)

                                                      INCURSÃO NA APA


14:00 da tarde se sábado, aproveitando a visita a Itaipuaçu e por sugestão de um sítio na Internet que defende a APA para uso não comercial, decidi desmistificar alguns comentários a respeito e voltar para casa utilizando aquele caminho. Inicialmente aparece apenas uma placa dizendo que é propriedade particular, proibida a entrada e outras coisas, mas fui em frente, pois fazia anos que não atravessava de um lado ao outro e tive curiosidade em ver o que tanto se defende de forma tão radical.

Devo dizer que não sei ao certo o que se passa na cabeça das pessoas que tentam marginalizar aquela área quando incitam a população a ignorar que a APA faz parte do município e é via de integração inclusive entre distritos, devido á falta de urbanização (não confundir com edificação indiscriminada), o caminho é muito precário, estando sujeito inclusive em alguns trechos intransitáveis, necessitando dar meia volta e tentar novo trajeto para utilizar o direito incondicional de ir e vir. Em algum momento o carro ficou preso na areia fina com lama o que deu trabalho para tirar, mas também não esperava um passeio no bosque numa área urbana tão selvagem.
A degradação do local por falta de fiscalização efetiva demonstra que é uma área muito violenta, com o abandono de veículos na suas imediações e os constantes aterros que vem sendo feitos em algumas clareiras e mesmo ao longo do caminho, por ser um lugar ermo, fica difícil dizer quantas almas estão enterradas ali ou simplesmente sob ela, muito possivelmente em baixo dos entulhos haverá mais do que apenas restos de construções.
O lixo também prospera por ali a passos largos junto com as oferendas ao longo do percurso, a cada 50m que passava precisava pedir licença porque eram tantos alguidares que daria para abrir uma loja de cerâmica, contei cerca de 150 nesse trecho. Não quis fotografá-los, porque acho que não é o caso de manifestar esta ou aquela opinião, mas destoa notadamente num lugar que pretende ser de turismo ecológico ou até mesmo conservacionismo. Acredito que após enviar esta carta alguns novos despachos conterão o meu nome.

Algumas pessoas arriscavam um acampamento em lugar também duvidoso, entretanto perto da estação da INFRAERO, devo dizer que é preciso muita coragem para permanecer ali sem que haja qualquer tipo segurança, apoio ou fiscalização florestal que numa emergência possa interceder a nosso favor, inclusive os celulares não funcionam ali por ausência de sinal.
Vi coisas bonitas claro, a natureza por si só já faz a sua parte ainda que seja um relevo bem árido e muito peculiar ás orlas marítimas, entretanto considerei um risco do qual não pretendo repetir adentrar novamente neste lugar, com certeza por estar marginalizado pela falta de projetos devidamente contextualizado nos diferentes estudos como base, inclusive de proteção e sustentabilidade ecológica, onde entre outras coisas poderia fornecer energia eólica para todo o município e talvez para as cidades vizinhas, de poder ser uma via de acesso diretamente da rodovia 106 e comunicadora entre Itaipuaçu e Barra de Maricá de forma eficiente e segura, trazendo desta forma recursos através do turismo para a sua conservação, considerei toda a sua extensão extremamente violenta e insegura por imaginar que em algum momento pessoas foram e são coagidas a satisfazer desejos de caráter duvidoso ou amargar um longo percurso de volta a pé, ás vezes inclusive ao entardecer próximo da escuridão da noite.

Com certeza muitos terão estas histórias guardadas no intimo de seus corações até por vergonha de terem se deixado pegar de forma tão vil. É uma área que necessita de atenção imediata porque a violência urbana se estende de forma acelerada para as clareiras e picadas que vi por onde passei é notória, ali pessoas certamente sofrem em silêncio na mão de outras e é inadmissível que isso se perpetue por vontade e falta de visão coletiva de alguns poucos “ativistas” (mais radicalistas) se é que podemos chamar assim, já que nem dessa forma talvez o devamos fazer porque eles mesmos não sabem o que defendem, assim como não tem projetos de viabilidade e quando perguntados sobre em que consiste na verdade as suas lutas, a resposta invariavelmente é a sugestão histérica para procurar na Internet os estudos existentes, mas inexistindo um que abrace todos e tantos excelentes trabalhos técnicos e pesquisas existentes, isto é, de palpável e aglutinador, absolutamente nada.
Indivíduos que cerceiam a liberdade de outros de se manifestarem abertamente sem serem escorraçados como cachorros, além de deixarem as pessoas reféns de seus próprios medos com a manipulação através de sofismas como acontece em Zacarias, incentivam assim invasões irregulares, consolidando uma favela com um aumento gradual de população, que empossa e constrói casebres. Acredito muito que aquelas pessoas desejam acima de tudo prosperar também e tem com certeza aspirações para os seus descendentes, nem todos querem que os filhos continuem sendo pescadores nas mesmas condições precárias que lhes são impostas, devem querer como todo o resto do mundo ter filhos formados em engenharia, medicina, física, administração e até em indústria de pesca, mas estão fadados a levar sobre as costas o carma de seus antecessores mesmo numa região fértil, mas sempre improdutiva, que até então só trouxe dissabores e discórdia.

Enfrentar o mar todos os dias para ter o que comer no dia seguinte não é opção, assim como viver do assistencialismo também não é. Aqueles que utilizam o sofrimento dos outros para que lutem suas lutas devem se lembrar acima de tudo que “A VERDADE ABSOLUTA INDUZ À INTOLERANCIA”, por isso não se deve fechar os olhos, nem as oportunidades para o progresso de forma ordenada, discutida, viabilizada, assistida e integrada. O desejo de uma minoria não pode e não deve se sobrepor ao da maioria, e para isso não se deve dizer ou publicar meias verdades, esta discussão precisa ser tratada como um assunto sem manipuladores e consciente de sua importância no desenvolvimento para o futuro do município.
Por fim saí daquele lugar que tanta má impressão me causou e cheguei à Barra de Maricá, abaixo duas fotos da Rua 0 para complementar o passeio. Em primeiro plano o lixo que predomina sobre a paisagem, abaixo uma parte agradável e segura de ser vista.

Ana Paula de Carvalho

www.civilidade.com.br

Comentários